Street Work, Don't pass through here, please

Há uma forma portuguesa de fazer as coisas que não se encontra em mais lado nenhum. Chega-se a um sítio, para-se uma carrinha, descarrega-se pessoal e material e colocam-se uma fitas para impedir a passagem para se começar a trabalhar. Está feito. Não se arranjam alternativas que não coloquem em risco as pessoas, não se colocam sinais de aviso, apenas se faz. Não é improviso, nem desleixo nem talvez preguiça. Seja então da natureza social portuguesa, ou dito de outra forma da educação para a cidadania. Algo que devia passar por mais que retórica de escola secundária e transbordar para o fazer do dia a dia.
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Este ciclista levava na sua bicicleta três ou quatro cães, presumo que uma família. Na engenhoca presa ao guiador seguiam dois adultos e na caixa à retaguarda seguia um cachorro com poucos meses de vida. A bicicleta parecia estar apetrechada para fazer um qualquer número de rua com os cães e quando passou por mim mal tive tempo de levar a máquina ao olho e disparar. Tinha algum receio com o facto de estar em contra luz e a lente da Canon A35F não ser muito resistente a flares. No final o resultado foi muito agradável. Para além disso esta máquina, juntamente com a Digital Ricoh GR, tornou-se a minha máquina de filme para andar nas ruas. O filme foi o Kodak BW400CN que pode ser revelado pelo processo C-41 dos negativos normais. Um processo mais expedito e que evita esperas (o que nem sempre é mau).
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sem título
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As imagens contam histórias, uma imagem vale mil palavras, etc... etc... etc... tantas foram as metáforas que já se fizeram sobre a escrita e a fotografia. Sejam inimigas ou homozigóticas, há para todos os gostos. No entanto há alturas em que a associação da palavra à imagem não é fácil, ou pelo menos a transferência de ideias de uma para outra não é fácil. Ficamos nus. Aquilo que construímos mentalmente não se traduz em imagem e o que criámos não tem tradução em palavras. Então palavra e imagem ficam despidos, contemplando apenas o frio de um inverno chato e aborrecido.
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Onde fica?

A vida é feita de imprevistos e as grandes armas dos tempos modernos são a resiliência e a adaptabilidade. A primeira para continuar a ter motivação para perseguir um caminho escolhido, a segunda para responder instantaneamente às oportunidades que surgem.

[De notar que não estou a falar de nenhuma destas características em situações de crise como a vivida em Portugal atualmente, nestas alturas estas características estão mascaradas por outras mais dramáticas como o desespero de se encontrar entre a espada e a parede e numa situação de emergência como essa nunca se sabe como se vai reagir e normalmente a escolha é sempre errada porque é feito pelos motivos errados.]

E nestes meandros de saltimbanco das oportunidades há algo que se torna evidente: A nossa mala de viagem vai ficando cada vez mais leve. As nossas prioridades vão mudando de forma a que nos tornamos obsessivos pela redução ao essencial. Deixamos coisas em casa, para o conforto do sofá, mudamos de sapatos para uns world traveller, optamos por um computador mínimo que pode também servir para carregar o telemóvel via usb. Tudo para evitar carregar coisas inúteis e reduzir o que se transporta ao mais básico.

Prioridades. Aprendemos muito sobre nós próprios se tentarmos colocar a nossa vida numa mala com dimensões de cabine de avião. Tantas vezes achamos que precisamos de algo e no final chegamos à conclusão que temos demais. Tentem e vão ver que ainda sobra espaço.
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Ideia Lumionsa

Henri Cartier-Bresson fala da fotografia como um processo emotivo, muito mais importante que o aspeto documental que odeia (mas no/do qual sobre/vive). Refere-se à fotografia como a captura daqueles instantes onde a realidade se transforma no esboceto de geometrias e luz que a mente criou. Onde o fotografo pressiona o obturador e diz "Sim, clique, Sim, clique, sim"
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Cerco ao líder

Ele há tantas razões para ficar irritado com as livrarias em Portugal. Hoje de manhã corri 3 livrarias (Bulhosa, Bertrand e Barata) em busca de um guia de viagem sobre Marrakesh. Em nenhuma das livrarias o livro existia. Aliás em duas delas apenas existia um outro muito básico que não me interessava e na terceira nenhum guia de viagem sobre Marrakesh ou mesmo sobre Marrocos. Perguntei se iriam ter no futuro, "só se vier numa próxima entrega" "e virá?", "não sei".

Por isto é que a Amazon e a Book Depository são minhas amigas. As livrarias portuguesas preferem ficar cegas aos clientes.

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Pelas tardes de Novembro em Lisboa

Quantas vezes nos perguntamos "Qual o caminho?", mas tanto mais importante é perceber como percorrer O caminho que escolhermos. Tive estes pensamentos ao pensar na obra da Vivian Maier, talvez uma das primeiras "street photographers" que deixou mais de 100,000 negativos que fez ao longo da vida e que nunca mostrou a ninguém o seu trabalho. Toda a vida trabalhou como ama e sempre no limiar de uma vida modesta. O seu trabalho foi encontrado por acidente em 2007 num leilão de um depósito de armazém onde ela tinha guardado todo este seu alter fotográfico desconhecido. Que caminho escolheu Vivian Maier? E como o viveu? Uma fotógrafa impressionante, mas uma história de mil reflexões. Para onde corres?
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Castanhas assadas nas tardes de Novembro em Lisboa

Novembro em Lisboa é mês que se enche do cheiro a castanhas. Os fogareiros sempre a assar, com um fumegante fumo branco que enche as ruas de um aroma único. Ainda não comi castanhas este ano, mas esta vendedora foi apanhada num jogo de fumo e luz. Pena que a fotografia ainda não permita reproduzir cheiros.
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